Qual a importância de realizar o exame de MAPA?
- Dr. Daniel Nunes
- 12 de ago. de 2020
- 5 min de leitura

A intenção do Cardiologista e todo médico que cuide e trate de seus pacientes de maneira holística ou seja, cuida de todas as queixas ou todos os problemas, não quer dizer que vá resolvê-los de maneira integral, mas pelo menos vai tentar diagnostica-los e se não tiver expertise poderá encaminhar à algum colega/especialista que com certeza solucionará sua demanda.
Nesse contexto podemos citar novamente que a maior causa de mortalidade no Brasil e no mundo são as Doenças Cardiovasculares cerca de 1/3 das causas de mortalidade. Assim não poderíamos deixar de abordar a Hipertensão Arterial (HA) que é o mais prevalente fator de risco associado a doenças Cardiovasculares, juntamente com com dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (DM). Mantendo associação independente com eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal. Há relatos que revelaram que HA estava presente em 69% dos pacientes com primeiro episódio de IAM, 77% de AVE, 75% com IC e 60% com DAP.5 A HA é responsável por 45% das mortes cardíacas e 51% das mortes decorrentes de AVE.
No Brasil, HA atinge 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos, mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular (DCV). A prevalência de HA entre adultos com 18 a 29 anos foi 2,8%; de 30 a 59 anos, 20,6%; de 60 a 64 anos, 44,4%; de 65 a 74 anos, 52,7%; e ≥ 75 anos, 55%.
Assim sendo, uma revisão mostrou que a Hipertensão Arterial apresenta taxas de conhecimento entre (22% a 77%), tratamento (11,4% a 77,5%) e controle (10,1% a 35,5%) variando bastante, dependendo da população estudada.
Ou seja, muitos não tem conhecimento que são hipertensos; dos que conhecem, muitos não tratam; ou se tratam a maioria não atingem as metas estabelecidas para não desenvolverem lesões de órgãos alvos ou até uma doença estabelecida.
O desenvolvimento da Hipertensão arterial (HA) é condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo juntamente com a presença de múltiplos fatores de risco:
· Idade - Há uma associação direta e linear entre envelhecimento e prevalência de HA, Meta-análise mostraram a prevalência de até 68% na população maior de 60 anos; o que corrobora a importância deste fator de risco com envelhecimento populacional.
· Sexo e Etnia - Existe prevalências de 30,3% em brancos, 38,2% em pardos e 49,3% em negros, sendo mais prevalente em molhes
· Excesso e Peso - . E aproximadamente 70% dos homens e 61% das mulheres com hipertensão são obesos, ou seja, têm um índice de massa corporal superior a 30kg/m².
· Consumo de Sal - O consumo excessivo de sódio, um dos principais FR para HÁ. A recomendação do consumo de sal de 2g/dia mas em vem se excedendo em até duas vezes o consumo máximo recomendado, menor na área urbana da região Sudeste, e maior nos domicílios rurais da região Norte. Assim, apenas 15,5% das pessoas entrevistadas reconhecem conteúdo alto ou muito alto de sal nos alimentos.
· Ingestão de álcool - Consumo crônico e elevado de bebidas alcoólicas aumenta a PA de forma consistente e o consumo abusivo de bebidas alcoólicas foi mais frequente entre os mais jovens e aumentou com o nível de escolaridade.
· Sedentarismo - Observou-se associação significativa entre HA e idade, sexo masculino, sobrepeso, adiposidade central sedentarismo nos momentos de folga e durante o trabalho, escolaridade inferior a oito anos e renda per capita < 3 salários mínimos.
· Fatores Socio Econômicos - Adultos com menor nível de escolaridade (sem instrução ou fundamental incompleto) apresentaram a maior prevalência de HÁ.
· Genética - A história familiar e notadamente existente, entretanto estudos não conseguiram identificar um padrão genético mais prevalente talvez pelo forte impacto da miscigenação, dificultando ainda mais a identificação de um padrão genético para a elevação dos níveis pressóricos.
Para o Combate a hipertensão deteve-se fazer estratégias para prevenção do desenvolvimento da HA englobam políticas públicas de saúde combinadas com ações das sociedades médicas e dos meios de comunicação. O objetivo deve ser estimular o diagnóstico precoce, o tratamento contínuo, o controle da PA e de FR associados, por meio da modificação do estilo de vida (MEV) e/ou uso regular de medicamentos.
Assim encaixa-se o médico Cardiologista ou generalista que tem o dever de, se não conseguir tratar ou atingir uma meta estabelecida, pelo menos deve Fazer o diagnóstico com uma medida ocasional no consultório ou lançar mão de exames que facilitem o diagnóstico e Prognóstico do paciente.
Resultados esperados:
· Normotensão - Valores normais de PA no consultório (< 140/90 mmHg) e na MAPA de 24 horas (< 130/80 mmHg) ou na MRPA (< 135/85 mmHg).
· Hipertensão - Valores sistematicamente anormais de PA no consultório (≥ 140/90 mmHg) e médias igualmente anormais de 24 horas pela MAPA (≥ 130/80 mmHg) ou pela MRPA (≥ 135/85 mmHg).
· Hipertensão do Avental Branco (HAB) – presente em 15 a 30%dos casos; quando há valores anormais na medida da PA no consultório (≥ 140/90 mmHg) e valores normais de PA pela MAPA durante o período de vigília ou pela MRPA (≤ 135/85 mmHg). É importante observar que nessa condição ocorre mudança de diagnóstico de hipertensão arterial no consultório para normotensão fora dele. Mais recentemente, entretanto, devido à contribuição da PA durante o sono como preditora de eventos, tem-se considerado uma definição alternativa para a HAB quando há PA no consultório (≥140/90 mmHg) e média de PA de 24 horas
· Hipertensão mascarada (HM) - A hipertensão mascarada (HM) ocorre em aproximadamente 10 a 15% dos casos, quando há valores normais na medida da PA no consultório (< 140/90 mmHg) e valores anormais de PA pela MAPA durante o período de vigília (> 135/85 mmHg) ou pela MRPA (> 135/85 mmHg). Nessa condição também acontece mudança de diagnóstico de hipertensão fora do consultório para normotensão no consultório. Geralmente são jovens com PA casual normal e geralmente já apresentam na investigação alguma lesão de órgão alvo
Assim é imperativo a realização de medidas adequadas da Pressão Artérial e eventualmente a realização do MAPA para o diagnóstico. As vantagens em relação às medidas casuais, como a atenuação do efeito do observador com obtenção de valores que se aproximam da PA real nas atividades habituais. Além disso, avalia o comportamento da PA durante o sono, a elevação matinal precoce da PA e o comportamento da resposta terapêutica nas 24 horas. Em situações especiais, a MAPA é recomendada para afastar o diagnóstico de HAB na avaliação inicial do paciente suspeito de hipertensão arterial. A MAPA está indicada para o correto diagnóstico da HÁ e devendo-se considerar suas vantagens como múltiplas medidas, avaliação durante atividades habituais e correlação com sintomas além de medidas durante o sono.
1- DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL_7º; Arq Bras Cardiol 2016; 107(3Supl.3):1-83
2- Diretrizes de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial_6º e 4ª Diretrizes de Monitorização Residencial da Pressão Arterial; Arq Bras Cardiol 2018; 110(5Supl.1):1-29
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