Doença Arterial Obstrutiva Periférica e Associação com Doenças Cardiovasculares
- Dr. Daniel Nunes
- 28 de set. de 2020
- 3 min de leitura

A doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) é a obstrução total ou parcial de vasos arteriais por placas de aterosclerose com componente lipídico, fibroso e até calcificado. A gênese dessa lesão é o processo inflamatório existente na parede dos vasos / Endotélio (abordado no post de lesão de carótidas); que secreta mediadores inflamatórios que tem efeitos fisiológicos. Assim pode até ser considerado com um o maior Órgão dentro do corpo Humano.
A inflamação endotelial pode ser precipitada por todos os fatores de risco cardiovasculares (Tabagismo, Colesterol; Hipertensão arterial, Diabetes, Sedentarismo, Obesidade, Estresse; Idade e História familiar) e assim estar associada a maior risco cardiovascular
No Projeto Corações do Brasil já amplamente conhecido, foi investigado a associação de dessas duas doenças e a definição de um índice capaz e mesurar o risco de presença de DAOP nomeando o (Índice Tornozelo-Braquial - ITB) . Para o cálculo do ITB, utilizou-se a maior pressão sistólica do tornozelo (pediosa média ou tibial posterior média) dividida pela maior pressão dos braços (braquial direita ou esquerda média), sendo calculado um valor de ITB para cada membro inferior.
Valores de ITB < 0,90 em um ou em ambos os membros inferiores, foram considerados diagnósticos de DAOP. Ausência de DAOP foi definida como níveis de ITB de 0,91 a 1,40, na ausência de revascularização arterial de membros inferiores. Valores de ITB > 1,40 foram excluídos da análise, pois não definem o diagnóstico de DAOP.
Observou-se tendência a maior prevalência de DAOP entre aqueles que não praticavam atividade física, em tabagistas > 20 anos/maço em relação aos que fumaram menor quantidade de cigarros. Não houve associação entre consumo de álcool e DAOP. No Estudo de Rotterdam, observou-se associação inversa entre o consumo de álcool e DAOP, apenas em indivíduos não fumantes.
Os portadores de DAOP apresentaram o triplo da prevalência de AVC e o dobro da prevalência de isquemia miocárdica, manifesta por angina pectoris e/ou infarto do miocárdio, em comparação com o grupo sem DAOP. A coexistência de DAOP e lesões ateroscleróticas em outros leitos vasculares tem sido relatada, especialmente entre os idosos. Em um desses estudos, na presença de DAOP, a prevalência de DIC foi de 68% e de AVC, 42%30.
Houve tendência a maior prevalência de outras doenças como: hipertensão arterial, IRC dialítica e insuficiência cardíaca, diabete, obesidade e a claudicação de membros inferiores.
Ao se analisar a interação entre gênero e as condições clínicas coexistentes, observou-se que as mulheres com DIC incluídas no estudo Corações do Brasil apresentaram risco cerca de 5 vezes maior de ter DAOP do que aquelas sem DIC, enquanto que nos homens diabéticos o risco de apresentar DAOP foi 6,6 vezes em comparação aos não diabéticos. Uma possível explicação, no caso das mulheres, seria a tendência de desenvolver doença cardiovascular mais tardiamente, devido ao fator de proteção hormonal. A pós-menopausa poderia elevar a chance de manifestações de acometimento vascular em mais de um território. Por outro lado, sexo masculino e diabetes são dois fatores que têm estado associados à manifestação de DAOP em faixas etárias mais jovens.
Assim, vale lembrar que o rastreamento da DAOP na prática clínica, já que até 91% dos casos podem ser assintomáticos que, detectados precocemente, poderiam se beneficiar das medidas preventivas para redução do risco de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e morte cardiovascular A simples adoção da medida do ITB e a realização de exames de doppler ou duplex arterial (ultrassom arterial) como parte da avaliação de pacientes de moderado e alto risco cardiovascular, implicaria em substancial impacto sobre a detecção precoce dos portadores assintomáticos da doença.
Comments